sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Capítulo 7 - Parte 1

Capítulo 7: Longo Caminho para Casa

Parte 1: Quebrando o Silêncio




Mais uma vez Moira acordava no meio da floresta, sem saber direito o que havia acontecido. Sentia seu corpo todo dolorido e pegajoso. Ela sentou-se no chão, colocando a mão direita sobre a cabeça e olhando em volta para tentar lembrar-se do que havia acontecido. O que primeiramente chamou sua atenção foi o brilho da fogueira que estava ao seu lado, fazendo com que se lembrasse de ter visto uma grande explosão, mas ainda não recordava o que havia a causado. Também percebeu que, por entre as estreitas aberturas entre as árvores, o céu parecia estar escurecendo, o sol deveria estar se pondo. Mas o que realmente a pegou de surpresa foi encontrar Alan, a mais de um metro de distância do outro lado da fogueira. Estava deitado no chão, parecia dormir profundamente.

Pela segunda vez o encontrava ao acordar em meio ao mato e as árvores. E a situação lhe trouxe uma sensação estranha, mas familiar. Um aperto no peito. A floresta escurecendo lhe trazia fantasmas do passado, os quais Moira lutava para que fossem embora imediatamente, antes que ela perdesse o controle mais uma vez. Cerrou os olhos e segurou a cabeça com as mãos, forçando-se a se concentrar em algo que a fizesse esquecer. Foi então que lembrou o que havia acontecido. A mulher assustadora que os atacou, a explosão, a queda, e o mais importante, a princesa não sabia onde seu irmão estava, nem se estava ferido. Recuperar a memória do acontecimento recente a desesperou.

Rapidamente Moira procurou o lugar de onde haviam vindo. Lembrava que tinham rolado por uma longa rampa e então a buscou à sua volta desesperadamente, mas não tinha nada que se parecesse com uma até onde conseguia ver. Ela levantou-se com muita pressa e segurou as mãos contra o peito, forçando-as a pararem de tremer. Sentiu um dos joelhos doerem quando ficou de pé, mas naquele momento preferiu ignorar a dor e ir até Alan.

- Por favor... – sussurrou enquanto se ajoelhava, sentindo o joelho doer mais uma vez e deixando escapar um gemido.

O som que ela fez sem querer acabou por acordá-lo. Alan virou o corpo parcialmente e fitou o rosto dela.

- Tenho que achar o Maxwell!- falava alto e rápido demais, era difícil entender o que dizia, parecia muito transtornada – Por favor, me diga qual o caminho! – continuava segurando as mãos contra o peito, mas todo seu corpo já estava tremulando e sua respiração era curta.

O forasteiro sentou-se em frente à princesa notando sua pele que normalmente já era pálida, ainda mais branca. Ela também estava encolhida, parecendo um animal acuado. O sujeito tentou tocar sua pele para saber qual era a temperatura do corpo, mas Moira encolheu-se ainda mais, se arrastando para trás e assim sentindo o joelho doer outra vez. Alan deu um suspiro e colocou-se de pé, dando as costas para ela e olhando em volta, percebendo que estava ficando escuro.

 - Ei! Você não vai fazer nada? – levantou-se cuidadosamente, a tremedeira parecia estar mais fraca – Você era o guarda do Maxwell! Era ele quem você tinha que proteger! – Alan pôde perceber que os olhos dela enchiam-se de lágrimas – Agora ele pode estar ferido e você nem se importa! – apontou para ele, trocando todo seu pânico por ira – Eu deveria ter tentado convencer meu pai a lhe expulsar! A culpa de tudo isso é sua! Você que deve ter trazido aquela mulher de olhos vermelhos! – as lágrimas escorreram por seu rosto enquanto ela cerrava os dentes com força – Você e ela são iguais! Assassinos! Você não seria mesmo capaz de importar-se com o Maxwell!!! – gritava e gesticulava nervosamente.

Ele a fitou com o seu olhar ameaçador que era capaz de deixar qualquer um incomodado, mas parecia nunca ter funcionado muito bem com ela.

- Pare de olhar para mim assim!! – já não estava tão pálida - Quantas vezes terei de dizer que deve olhar para o chão quando eu estiver falando com você!? – depois de passa-lo a ordem enxugou os olhos com as mangas, finalmente percebendo o quão sujas e esfarrapadas estavam.

Alan finalmente deu outro suspiro e, em vez de obedecê-la, simplesmente voltou a se deitar sobre o chão, perto da fogueira, ignorando-a completamente e ficando de costas para a jovem.

- Eu sabia! – falou ainda mais alto – Não tinha como alguém como você se importar com ninguém! Afinal para que você se infiltrou no castelo? – passou pelo lado da fogueira até ficar novamente de frente para ele, muito indignada com sua falta de respeito – Provavelmente nem mudo você realmente é!

A frase final de Moira pareceu provocar uma risada no sujeito que voltou a se levantar e a fita-la mais uma vez.

- Vai zombar de mim também? E continua me encarando assim?? – segurou-o pelo cachecol, forçando-o a se curvar um pouco para frente, pois detestava falar com ele tendo de olhar para cima.
- Mais uma vez está certa. Vossa Alteza. – deu um sorriso maldoso e agarrou a mão da princesa que segurava seu cachecol.

O coração da garota acelerou de novo e sentiu o frio subindo pela espinha. Instintivamente ela acabou encolhendo-se e soltando o tecido do pescoço dele, só que Alan não havia largado sua mão. A voz dele era imponente, porém melodiosa e agradável, mas possuía um estranho sotaque que a princesa jamais havia ouvido antes. Algumas vogais das palavras eram entonadas de uma forma que as deixava levemente salientadas. Era a mesma voz do sonho de Moira.

- E agora que já está feliz por sua nova descoberta, por favor, cale-se. – libertou o braço da princesa e se afastou.

Moira ficou em silêncio, paralisada com a fala do sujeito, mas principalmente por sua voz ser exatamente igual ao sonho. Acabou precisando de alguns minutos para recompor seus pensamentos. Quando finalmente conseguiu se recuperar, Alan já estava sentado de frente para a fogueira, novamente quieto.

- N-não foi um sonho, não é verdade? – perguntou, o tom de voz estava bem baixo desta vez.
- Na noite em que tentou fugir do seu noivo? Hm...  –fez uma irônica expressão pensativa sem tirar os olhos da fogueira – Não.
- Você... – cerrou os pulsos com força, sentindo muito ódio pelo homem em sua frente – Você brincou com o rei. Você brincou comigo! – voltou a gritar – Enganou a todos fingindo não poder falar!! – sentia uma grande vontade de liberar toda sua fúria, mas tentava se controlar, já havia feito escândalo demais para alguém da realeza como ela era.
- Não exatamente. Eu tinha um motivo. – fitou-a novamente - Que Vossa Alteza inutilizou.
- Qual motivo? – fez a pergunta com os dentes cerrados, o que fez com que sua voz saísse fraca mais uma vez.
- Vossa Alteza não entenderia. – voltou a ficar sério.
- Está insinuando que sou ignorante? –além de irritada também se sentiu insultada.
- Vossa Alteza é muito inteligente. – voltou a estampar um sorriso malicioso nos lábios, mostrando seus dentes que pareciam perfeitos demais para alguém que vestia roupas tão surradas.
- Eu não vou ficar aqui para ouvir seus absurdos! Eu... Vou atrás do meu irmão! – olhou em volta e dirigiu-se para o sul, posição à qual julgou ser a certa.

Alan rapidamente levantou-se e a segurou pelo braço, puxando-a e fazendo com que girasse no próprio eixo, ficando de frente para ele. A ação havia a assustado.

- Não viemos por este lado. – sorriu, mas logo ficou sério - E não adianta voltar pelo mesmo caminho. Não tinha como subir o declive. Era íngreme demais. – demonstrou um sorriso menos maldoso – E já se passaram várias horas desde o incidente. O “Senhor Gentileza” já deve ter levado o príncipe rumo a sua cidade.
- Não tem como ter certeza! – afastou-se dele.
- Olhe à sua volta. Está escuro. – passou os dedos por entre as mechas bagunçadas do cabelo dourado que caíam no rosto - Mesmo que encontre um caminho de volta para a parte alta da floresta, a iluminação será fraca demais para tentar se encontrar alguém.

Moira sabia que ele tinha razão, mas não conseguia ficar calma sem ter notícia alguma sobre seu irmão e a presença daquele homem que havia a enganado o tempo todo também incomodava-a demais. Sem saber o que mais fazer, nem como se tranquilizar, a princesa ajoelhou-se perto da fogueira, pois o frio estava ficando mais intenso com a chegada da noite. Ao fazer o movimento deixou escapar outro gemido com a dor que sentiu no joelho.

- Sua perna está doendo? – Alan, que já havia voltado a se sentar antes dela, fitou-a novamente.

A jovem não o respondeu, apenas devolveu um olhar cheio de ódio.

- Está bem. – ele puxou o próprio corpo para mais perto dela – Deixe-me ver. – estendeu a mão próxima ao joelho da garota, esboçando um sorriso ardiloso, entretanto Moira reagiu encolhendo-se e tentando se afastar.

Vendo a reação da princesa ele arfou e então se inclinou rapidamente na direção dela, agarrando sua coxa sobre o tecido do vestido com uma das mãos e puxando-a para si, o que fez com que a jovem caísse com a lateral do corpo para trás com o puxão.

- Co-Como se atreve!? – esbravejou tentando se apoiar sobre os cotovelos para reerguer o corpo.

Alan percebeu que a parte do vestido que cobria o joelho direito estava rasgada e manchada de sangue.
Utilizando-se novamente de nenhuma delicadeza, o sujeito segurou a panturrilha da princesa e apoiou sua perna sobre a dele, analisando mais de perto.

- Pare com isso! Não toque em mim! – tentou puxar a perna para longe, mas Alan a segurou e rasgou o tecido sobre a ferida.
- É grande, mas foi só um raspão. Não vai deixar marca. – explicou enquanto rasgava o vestido novamente, arrancando um grande pedaço de tecido.
- O que está fazendo!? Não! – Estava assustada e se sentia humilhada, enquanto tentava soltar sua perna, arrastando-se para trás desesperadamente.
- Quieta! – puxou a perna dela para cima e apoiou o pé sobre o próprio ombro, enquanto segurava a outra perna com o joelho.
- P-por favor! –Não conseguia mais mover suas pernas, ambas estavam imobilizadas.

O sujeito nada gentil amarrou o trapo que havia feito de tecido do vestido já surrado da princesa em cima do joelho ferido e então a libertou.

- Pronto. – esboçou um sorriso malicioso e voltou a se sentar de frente para a fogueira.

Moira rastejou para trás nervosamente e parou quase do outro lado do fogo. Fitava-o com receio, encolhendo-se de medo.

- Nunca mais toque em mim... – o pedido saiu fraco como um murmúrio.
- Não posso fazer um curativo sem tocar em você. – respondia tranquilamente enquanto mantinha a atenção na fogueira, parecendo pensativo.
- Não lhe dei permissão para se dirigir a mim de maneira tão informal. – sentou-se e se ajeitou, logo em seguida olhou para o pano amarrado em seu joelho, que ficava exposto graças à abertura que Alan havia feito no vestido.
- Olhe a sua volta. Se não está gostando pode ir embora. “VOCÊ” não está presa. – olhou no fundo dos olhos da princesa.

Ela se encolheu mais uma vez e abraçou as pernas, desviando o olhar. Queria ir embora, mas sabia que iria se perder e não tinha arma alguma para se defender caso uma criatura agressiva surgisse. Compreendia que teria mais chances se ficasse com ele. Permaneceu, por um tempo, olhando em direção aos pés, tentando se acalmar e voltar à racionalidade. O silêncio que havia tomado conta do ambiente estava a incomodando, fazia com que Moira se sentisse só e essa sensação a deixava ainda mais nervosa.

- Eu... – suspirou, tomando coragem para falar e tentando fingir que o evento anterior não houvesse realmente acontecido – Eu estou com sede... – novamente falou em um sussurro.

Alan deu mais um sorriso, todos que ele demonstrava pareciam ser mal-intencionados. Colocou a mão no cinto e desprendeu de lá um cantil de couro.

- Pegue. – jogou por cima da fogueira na direção da garota e o cantil bateu nos braços dela que estavam protegendo seu rosto contra o objeto.
- Não jogue em mim, seu mal-educado! – pegou o objeto feito em couro e examinou-o com desdém.
- É agua. Se não vai beber pode devolver. – estendeu a mão.

Ela lhe lançou um olhar rancoroso e então voltou à atenção para o cantil. Puxou a tampa e colocou a abertura do cantil na boca, bebendo a água com o rosto contorcido de repulsa. Alan apenas a observava parecendo se divertir com a careta que fazia. A princesa, ao acabar de beber, deu um suspiro e fechou o cantil, jogando-o de volta para o forasteiro que imediatamente o pegou e ficou observando a garota por mais um tempo.

- Pare de ficar me olhando assim. – pediu com um tom de voz aborrecido.
- Como quiser Vossa Alteza. – respondeu em um tom sarcástico e removeu a tampa do cantil de couro, bebendo o que havia sobrado da água.
- Como é o seu nome? – ainda mantinha o tom de voz que deixava seu ódio exposto – O verdadeiro.
- Ian. – respondeu enquanto secava a boca com o tecido da manga de sua camisa.
- Não brinque comigo! – elevou o tom, irritada.
- Não estou.
- Como seu nome pode ser tão parecido com o que eu lhe dei? – ainda não acreditava na afirmação dele, mas tinha a impressão de já ter ouvido aquele nome, só não conseguia lembrar onde.
- Sou eu quem deveria fazer essa pergunta.  – franziu a testa, parecendo sério.

Pensou por mais alguns instantes até que finalmente conseguiu se recordar de onde havia ouvido antes.

- O Senhor Dário lhe chamou assim também! – inclinou-se para frente alvoroçada – Você disse seu nome para ele em algum momento, talvez enquanto Maxwell e eu estávamos correndo pela floresta! Ou... – deu uma pausa – Vocês já se conheciam! – apontou para Ian assustada.
- O conheci no mesmo dia que vocês. – deu uma rápida risada, tranquilizando sua expressão anterior.
- Então vocês conversaram! – irritou-se ao imaginar que Dário também havia escondido o fato do forasteiro ser capaz de falar.

O sujeito apenas sorriu e desconversou.

- É melhor que Vossa Alteza durma um pouco mais. Teremos muito caminho para percorrer amanhã. – ajeitou o cachecol surrado no pescoço.
- De novo dormir no chão?  - cruzou os braços e fez uma expressão carrancuda.
- Ao menos que queria dormir em cima de uma arvore ou... – sorriu - Em cima de mim.
- Prefiro dormir em uma pedra! – gritou, sentindo-se muito ofendida com a alternativa dada por ele.
- Então ache uma para você. – sempre respondia tranquilamente enquanto a princesa se irritava cada vez mais.

Moira bufou. Lançou-lhe mais uma expressão carrancuda e deitou-se de costas para ele e para o fogo.

- Não ouse chegar perto de mim. – a jovem disse ao se acomodar penosamente no chão, sabia que estava nervosa demais para dormir, mesmo assim precisava tentar descansar.

Ian apenas sorriu enquanto passava mais uma vez os dedos por entre os cachos disformes do cabelo. Com toda aquela conversa sem sentido o sujeito havia percebido que estava gostando de importunar a coitada da princesa. Ele não se divertia assim já havia algum tempo.



Continua...

Natalie Bear

6 comentários:

  1. i fucking knew it! >w<

    mudo o caraio uahehuae

    e sadico :) ssae

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    1. Certo. Não é o melhor sujeito que se poderia contratar como um guarda-costas...

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  2. Omg!!! Então não era um sonho D:!!!

    Coitada agora a Moira está tomando por tudo o que disse antes pro Ian xD.
    Muito bom, apesar de que eu achei que foi rápido demais mostrar que ele realmente falava xD.

    ^^/

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    1. Tem hora que eu sou lenta demais e tem hora que sou rápida???
      Mas demorou 7 capítulos pra mostrar D:. Isso é rápido?

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  3. Mais uma vez, está tudo bem escrito. Parabéns Shuu.

    Agora falta saber qual é a do People of the East whith Red Eyes. xD

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