terça-feira, 7 de agosto de 2012

Capítulo 6 - Parte 3

Capítulo 6: A Capa Negra

Parte 3: Visita Indesejada




A luz da manhã invadiu os olhos de Moira que ainda estavam acostumados com a escuridão. Primeiro levantou o corpo, atordoada, e percebeu que abaixo dela havia várias folhas mortas forrando o chão de terra. Não conseguia lembrar como tinha dormindo ali. Quando sua visão se habituou à luz tentou olhar em volta, refrescar sua memória, mas acabou por se espantar com o que viu.  Alan estava de volta mesmo que Moira houvesse o mandado embora e dito para jamais aparecer novamente, lá estava ele, recostado em uma das árvores, de braços cruzados a fitando com o costumeiro olhar gélido.

- Você, por acaso, é um imbecil? – esquecia-se completamente do medo que chegou a sentir dele e deu lugar a sua irritação – Eu lhe mandei sumir! O que está fazendo aqui? E pare de dirigir esse seu olhar para mim! – gesticulou, apontou para ele e sacudiu a cabeça, tudo para demonstrar o quão furiosa estava.

No entanto Alan não moveu nem um músculo, estava imóvel como uma estátua. Como um animal observando sua presa de longe.

- Está surdo também? Abaixe seus olhos quando eu estiver falando com você! – levantou-se parcialmente, ficando de joelhos sobre o solo e inclinando o corpo para frente, quase sobre os restos da fogueira já apagada, enquanto apontava para ele.

O misterioso sujeito , enfim se moveu, levantando-se do chão e ficando de pé. Estava bem acima da princesa, porém pareceu finalmente a obedecer, virando o rosto para outro lado.

Moira deixou que a irritação abandonasse seu rosto e tranquilizou-se. Ao olhar novamente para Alan percebeu que ele estava vestindo sua manopla de garras, além de o cachecol vermelho desbotado e surrado novamente.

- Então você recuperou os seus objetos. Quer dizer que ainda rondou pelo castelo depois que lhe mandei ir embora. Você é realmente péssimo para seguir ordens... – bufou, levantando-se preguiçosamente do chão. – Argh. – esticava costas e braços – Estou dolorida... E com fome.

Alan prontamente inseriu a mão dentro do colete velho que estava usando e de lá tirou uma maçã vermelha e brilhante, oferecendo-a para a princesa.

- Não vou comer isto! Você acabou de tirar a fruta de dentro desse seu colete imundo! – esbravejou, enquanto tentava imaginar o que mais ele guardava dentro do colete além de uma adaga e comida.

O sujeito ergueu os ombros, demonstrando seu desinteresse sobre o que ela achava, virou-se para outra direção e deu uma mordida na fruta.

- Agora vai me desrespeitar também? E onde estamos? E o que está fazendo aqui? – havia retornado ao seu momento de irritação.

Ele ignorou suas perguntas e prosseguiu comendo a maçã lentamente, como se estivesse provocando a jovem faminta.

- Na prisão eu lhe dei minha refeição duas vezes! Seu ingrato! – bradou com mais gesticulações.

O homem parou subitamente de morder a maçã e voltou a fita-la de forma compenetrada. Um olhar que a deixou mais assustada do que normalmente acontecia.

- Não me olhe assim. – havia abaixado o tom de voz, estava nervosa com aqueles olhos sobre ela.

Alan então esboçou um sorriso malicioso para a princesa e voltou a comer sua fruta. O que ele acabara de fazer deixou-a completamente confusa. Até mesmo porque não havia o visto mudar a expressão facial ainda, pelo menos não para uma que não fosse extremamente ameaçadora. O sujeito havia percebido o quanto aquilo havia a perturbado, na verdade ele havia sorrido justamente para causar aquele tipo de reação nela.

- E-E onde está o Maxwell? – virou-se para procurar seu irmão em volta do local, tentando fingir que não havia visto nada.

O sujeito loiro apontou para o norte enquanto dava a última mordida na fruta. Quando Moira olhou para a mesma direção em que ele apontava, conseguiu ver duas pessoas aproximando-se. Eram Dário e Maxwell.

- Moira! – o irmão mais novo correu até ela trazendo algumas frutas silvestres acomodadas no tecido da capa que antes vestia. – Está se sentindo bem?
- Estou. –acariciou a cabeça de Max – Mas estou com fome.
- Vossa Alteza. –Dário sorriu – Bom dia. – também trazia frutas consigo.
-Bom dia. – devolveu o sorriso e então se dirigiu novamente ao irmão – Posso pegar uma dessas suas frutas?
- Pode, eu as peguei para você também. – esticou a capa, oferecendo.
- Que fruta é esta? – recolheu uma – É bonita. – mordiscou a fruta.
- Um morango. – explicou Dário – Vossa Alteza nunca havia visto um?
- Acho que já vi em algum livro. Eu gostei. – comeu mais um pedaço.

Maxwell depositou a capa com as frutas sobre o chão e também pegou um morango para provar, mordendo-o.

- É bom, mas acho que poderia ser mais doce. – arqueou suas sobrancelhas finas.
- Para mim está bom assim. – Moira sentou-se ao lado da capa com as frutas e pegou mais um, junto com uma ameixa.

O jovem príncipe juntou-se a ela também, ajoelhando-se e se servindo de mais algumas outras frutas que havia colhido pela floresta, como amoras e “uva-dos-montes”. Logo Dário havia se unido aos dois, sentando-se ao lado do príncipe e pegando uma pêra para comer. Os três conversavam e comiam sua refeição enquanto Alan estava mais afastado, parecendo estar concentrado em distantes pensamentos. Apenas depois que eles terminaram, o forasteiro resolveu comer algumas poucas frutas.

- Nós já esperamos a dia amanhecer e já comemos também. Agora precisamos ir atrás do Senhor Siro! – Maxwell tentou se mostrar imponente aos demais, para que finalmente acatassem ao seu pedido.
- Nós iremos encontra-lo Vossa Alteza. – Dário deu mais um de seus gentis sorrisos – Só precisamos reencontrar a direção pela qual viemos ontem. – olhou em direção a Alan, que já estava procurando o caminho.

O homem misterioso avançou por uma passagem entre as árvores sem aviso prévio para os demais, forçando-os a seguirem-no apressadamente. Por quase uma hora Dário e os filhos do rei acompanharam Alan pelo suposto caminho que daria para onde Siro havia sido lançado para longe da carruagem.

- Estávamos tão longe assim dele? – Moira reclamou, já sentindo seus pés ficando doloridos, principalmente porque agora suas botas pareciam apertar os pés e um vento gelado estava a deixando com frio.
- Eu não tenho certeza. – Dário respondeu, com a atenção voltada para floresta.
- Não precisamos ir para a estrada? – Maxwell estava impaciente e preocupado com seu guarda – Não seria mais fácil seguir por ela?
- Tente descobrir com o senhor Alan para onde ele está nos levando.

O príncipe passou de Dário e foi até o homem que estava os guiando.

- Senhor Alan. Estamos procurando pelo senhor Siro? – franziu a testa enquanto olhava com seriedade para ele.

O guia, que havia parado de andar para ouvir o que Max tinha para dizer, acenou com a cabeça positivamente e seguiu seu caminho, deixando-o para trás.

- Será que podemos parar um pouco? – perguntou a princesa, que não se sentia disposta o suficiente para continuar caminhando.

Alan parou repentinamente e fez um gesto para que os três também interrompessem a caminhada.

- Oh! Eu estava precisando parar. – a jovem disse em um suspiro de alívio, no entanto Dário pediu para que ficasse em silêncio, algo estava errado.
- De novo... – O cavalheiro balbuciou, mudando sua expressão tranquila para uma de apreensão.

- O que está acontecendo? – o príncipe estava preocupado com as reações dos dois homens.

Em um movimento rápido, Alan ergueu o braço e apontou para sua esquerda. Moira e Maxwell acompanharam o gesto e perceberam que naquela posição havia uma pessoa distante, vestindo um longo manto negro com capuz que escondia perfeitamente seu rosto. Era a mesma pessoa da noite anterior. A visão daquele que havia os atacado assustou-os. Moira aproximou-se do irmão e segurou seu braço, puxando-o para si.

- Por que você voltou? – Dário havia falado com um tom de voz assustadoramente autoritário.

A figura, que à luz do sol já não era tão apavorante e fantasmagórica quanto na escuridão da noite, não respondeu, nem mesmo esboçou reação alguma. Parecia até estar petrificada, segurando suas belas armas uma em cada mão.

- Então volte de onde veio! – Dário continuou tentando espantar quem quer que fosse.

Alan recuou alguns passos, ficando próximo aos outros três sem tirar os olhos da ameaça por sequer um segundo. Até mesmo ele parecia preocupado.

Inesperadamente a pessoa misteriosa moveu-se muito depressa e correu na direção deles como uma flecha em direção ao seu alvo. As armas brilhavam intensamente em suas mãos, graças aos raios de sol que penetravam por entre as espessas camadas de folhas que cobriam os galhos das enormes árvores.

O forasteiro sacou velozmente a espada que trazia em sua cintura e colocou-se na frente dos outros três, conseguindo movimentar-se tão rápido quanto o atacante, a ponto deparar o ataque, produzindo um alto som metálico com as amas se chocando. Sem perder tempo o misterioso adversário jogou o corpo para trás, girou as armas nas mãos e investiu mais uma vez contra o seu novo oponente. Desta vez um golpe bem mais baixo que o anterior, que havia mirado praticamente na cabeça de Alan, mesmo que a pessoa vestindo o manto fosse mais baixa que ele. O ataque foi parado ao chocar-se contra a manopla que Alan usou para se defender, impulsionando os braços do inimigo para cima. Ele aproveitou que havia aberto a guarda de seu oponente e também o empurrou para longe, para ganhar tempo de se reposicionar.

- Fiquem perto de mim. – Disse Dário aproximando-se dos dois irmãos assustados.

O ser encapuzado recuou ainda mais e subiu, em uma corrida, uma das árvores com velocidade fenomenal, era como se estivesse desafiando a gravidade, embora o tronco não fosse tão longo.

- Por que ele voltou? - perguntou Maxwell, tentando controlar o nervosismo que a situação estava lhe causando, mas não obteve resposta de ninguém.

O misterioso adversário desapareceu dentro da copa da árvore. Era difícil descobrir sua posição olhando para o movimento das folhas, pois o vento estava as chacoalhando demais. O forasteiro tentava descobrir para onde o inimigo havia ido, parecia certo de que a pessoa não havia simplesmente desistido. Dário também estava em alerta, vigiava todas as direções possíveis.

- Acalme-se. – Moira sussurrou para o irmão, escondendo seu medo – Você os viu naquele duelo. Eles podem nos proteger.

Uma sombra negra surgiu sobre as cabeças dos dois irmãos. O ser encapuzado havia finalmente saltado para fora das copas de árvores e estava mirando suas adagas letais no príncipe e na princesa. Moira, em um movimento de reflexo, abraçou seu irmão mais novo e caiu de joelhos, levando-o junto. A irmã protetora curvou-se sobre ele e fechou os olhos, esperando pelo pior, mas estranhamente o som metálico que aconteceu no instante seguinte soou como a mais bela melodia para seus ouvidos. Quando a princesa reergueu a cabeça e abriu os olhos enxergou Dário caído mais afastado e a pessoa misteriosa também estava no chão, a alguns metros dele. Os dois haviam sido arremedados para trás pela potência com que as armas se chocaram. A jovem sentiu um imediato alívio e seu coração, que estava batendo nervosamente.

- Ian, a maldita assassina veio atrás deles! – apontou para os irmãos, estava visivelmente nervoso e parecendo meio cansado.

- A assassina? – Moira sussurrou, intrigada – Ian? – a principio a princesa não havia entendido por que Dário havia chamado Alan de Ian, mas depois imaginou que, por ter sido algo tão parecido, ele só havia errado a pronúncia naquele momento crítico.

O forasteiro colocou-se entre os irmãos e a assassina que levantava do chão. Ele lançou-se na direção dela e desferiu um ataque curvo de baixo para cima com a lâmina da espada, que foi prontamente desviado ao bater nas armas dela. Alan, que não havia dormido nada durante a noite e agora estava sentido seu corpo mais lento do que o de costume, tudo por causa do cansaço.

- O que você quer com eles? – Dário havia se levantado e se aproximado dela por trás.

A assassina não respondeu, ao invés disso abaixou-se muito rapidamente e girou o corpo, batendo com a panturrilha nas pernas de Dário e o derrubando. Ela aproveitou o descuido do oponente e se afastou novamente.

- Pare de brincar conosco! – Dário gritou, irritado, enquanto levantava-se.

A mulher então parou e ficou de frente para Alan, o encarando debaixo de seu capuz negro. Ela finalmente tirou-o de cima da cabeça, revelando-se. Tinha um longo cabelo negro preso em um rabo-de-cavalo e sua pele era bronzeada, embora mais clara que a de Alan. Mas havia algo que fez o príncipe e a princesa ficarem ainda mais nervosos do que já estavam. Seus olhos de um tom vermelho-brilhante. Além das íris não naturais também trazia um sorriso sádico em seus lábios.

Outra vez os olhos...

- O que isto significa? – Moira, que estava inquieta e muito irritada, soltou seu irmão caçula e levantou-se, afastando-se um pouco dele para mais perto do combate.

A mulher assustadora olhou diretamente nos olhos da princesa. A ação deixou a jovem princesa apavorada e a fez parar subitamente no meio do caminho.

- Fique onde está!- Dário pediu para Moira enquanto colocava-se na postura de combate, ajeitando o florete nas mãos.

A assassina fitou Dário e lançou um sorriso maldoso, enquanto colocava a mão dentro do manto que usava, tirando de lá um estranho objeto pequeno e oval. Ele a olhou com confusão, não parecia saber o que era, no entanto Alan ficou agitado repentinamente. No momento em que a estranha ergueu o braço com o qual segurava o objeto e inclinou-o para trás, para arremessá-lo, o sujeito de cabelos louros virou-se de costas para ela e correu na direção dos dois irmãos. Moira não sabia o que aquilo poderia ser, mas pela reação estranha de Alan ela se apavorou, ainda mais quando percebeu que ele corria em sua direção, sentindo seu corpo gelar.

A princesa em pânico acabou cobrindo o rosto com o tecido de suas mangas azuis manchadas pela terra. Ela sentiu o sujeito a agarrar como se houvesse a abraçado e no instante seguinte ouviu um som ensurdecedor e sentiu um estranho impacto os arremessando para o mesmo sentido em que Alan corria. Um brilho chamou sua atenção e a fez abrir os olhos. Moira presenciou algo muito brilhante diante de seus olhos. O fogo se espalhava pelo ar expandindo-se muito rapidamente. O estrondo havia sido tão alto que seus ouvidos pareciam incapazes de ouvir outro som. A princesa chegou a sentir o calor da explosão chegar próximo ao seu rosto. Ela havia visto tudo aquilo por cima do ombro de Alan enquanto eram brutalmente jogados para longe. Ambos foram arremessados para um grande e íngreme declive que estava escondido pela vegetação. O forasteiro, com o impacto contra o chão de terra úmida, acabou soltando a princesa e os dois rolaram pela terra por mais de trinta metros, finalmente parando em um trecho plano.

Demorou alguns minutos para que Alan levantasse, ficando sentado sobre o chão. Estava atordoado e precisou de mais um minuto para se recuperar da brusca descida. Finalmente lembrou-se de Moira e passou seus olhos em volta do local, procurando-a. Ela não se encontrava muito distante, a roupa a capa estavam com vários rasgões e manchadas pelo barro. A jovem parecia estar desacordada, deitada de bruços sobre o grande amontoado de folhas mortas que cobria todo o chão dali.

Quando ficou de pé ele sentiu parte das costas arderem, o que não era um bom sinal. O fogo havia chegado até ele e o queimado. Alan não julgava ser um ferimento muito sério, entretanto não tinha como ter certeza. As outras escoriações, causadas pela queda, não pareciam lhe incomodar tanto quanto o cansaço de seu corpo e mente. Ter passado quatro dias em uma cela de pedra e não tendo descansado nada na noite anterior havia comprometido demais seu desempenho.

Olhou para cima, para a grande rampa natural em que haviam acabado de descer. Era feita de barro e era muito inclinada para que pudesse subi-la de volta. Também não tinha como saber o que tinha acontecido com os que haviam ficado lá em cima.

O já pequeno grupo havia sofrido um estranho atentado e acabou sendo forcado a se separar ainda mais. Os estados de Dário e Maxwell eram desconhecidos e Moira estava desacordada, talvez até ferida mais seriamente.

A situação havia acabado de ficar muito complicada.


Capítulo 6: Fim

Natalie Bear

5 comentários:

  1. Bem legal o capítulo, Shuu ^^!

    Tem alguns errinhos pequenos, mas nada que comprometa a leitura ^^.

    O desenho também ficou muito bacana ^^!

    Parabéns ^^/

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  2. AGORA A PORRA FICOU SÉRIA auheuahehuaehu xD
    vish
    a nft daria um ótimo filme, com certeza xD
    queria fazer mais storyboards .A.'

    bom, um ótimo capitulo gostei bastante da assassina :)
    e o alan chama Ian mas é 'i' ou 'L' ? .O.

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  3. LOL filme \o\! Dificil... Escolher atores kkkk.

    Oh! Gostou da assassina :DDD

    E essa pergunta... Talvez o próximo capitulo ajude a responder...

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  4. Coquetel molotov? What kind of Alchemy is this?

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