sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Capítulo 6 - Parte 2

Capítulo 6: A Capa Negra

Parte 2: Entre Amigos


Um som de passos sobre folhas secas despertou o pequeno príncipe que antes havia tentado ficar atento aos ruídos da floresta, mas acabou se rendendo ao sono. Estava assustado e nem poderia fugir, pois sua irmã estava ali, desacordada. O pavor e a exaustão haviam a feito desmaiar em seus braços.  Ele não sabia como agir. Se fosse um animal selvagem não teria como escapar. Tudo o que podia fazer era esperar por seu destino em silêncio.

- Vossa Alteza?

O príncipe ouviu a voz de Dário distante e sentiu todo o pavor ser substituído por esperança, chegou até a pensar em gritar para que o seu amigo o encontrasse, mas tinha medo de atrair alguma criatura indesejada. Resolveu esperar que ele o encontrasse.

- Vossa Alteza! – Dário surgiu de trás de uma árvore, parecendo ter corrido até lá, pois estava ofegante.
- Você nos encontrou! - seus olhos brilhavam cheios de felicidade.
- O que houve com a princesa? – aproximou-se dos dois e se agachou.
- Ela desmaiou, mas agora acho que está apenas dormindo. – tentava se ajeitar na posição em que estava, recostado a uma árvore não muito larga, enquanto suportava parte do peso de sua irmã sobre ele -- E Siro? Você o encontrou?? – o jovem príncipe estava agitado.
- Não encontrei. – sentou-se ao lado de Max, também encostando-se à arvore e suspirando - Não pude ir procurar ainda, estava preocupado com Vossa Alteza e sua irmã.
- E se ele estiver ferido? E você? Não foi ferido pela pessoa que nos atacou? Você o enfrentou? – estava agitado.
- Na verdade não fui eu quem enfrentou. – já tinha um semblante mais tranquilo.
- Quem foi? – perguntou com uma mistura de confusão e curiosidade estampadas em seu rosto.
- Alan. – deixou um risinho escapar pelo canto da boca.
- Mas... Como ele estava lá? – arregalou os olhos, quase não conseguindo acreditar nas palavras de Dário.
- Parece que ele estava na parte de trás da nossa carruagem. Estava viajando conosco. – riu.
- Ah... – Maxwell estava espantado com a história, boquiaberto, antes nem mesmo sabia que o seu antigo guarda também havia fugido da prisão – Então... Onde ele está?
- Não muito longe de nós. Deve estar se certificando de que quem nos atacou não tente o fazer novamente. – inclinou o corpo para frente e parecia examinar o rosto da princesa, que estava sobre o tórax de seu irmão mais novo.
- Quer dizer que está nos protegendo!? – aumentou muito o tom da voz sem perceber.

 As folhas das copas das árvores logo acima das cabeças deles começaram a sacudir e em seguida algo saiu de lá e desceu em um pulo. O acontecimento deixou o príncipe assustado mais uma vez.

- Oh. Já chegou. – disse Dário com um sorriso.

Alan havia surgido repentinamente de cima de uma árvore, como se fosse um pássaro que acabara de pousar de um de seus voos. Maxwell, naquele momento, não conseguia imaginar como ele havia vindo de cima. O estranho guerreiro sentou-se no chão, exatamente no mesmo lugar em que havia pousado.

- A princesa não está muito pesada para Vossa Alteza? – Dário interrompeu os pensamentos de Max, que tentava entender a situação.
- Agora que mencionou... Meu braço esquerdo está ficando dormente. – tentou mover o ombro, mas ficou com receio de acordar sua irmã.
- Deixe-me ajudar. Se me permitires irei apoiá-la sobre meu ombro. – levantou e trocou de lado, sentando-se próximo à princesa.
- Eu agradeceria, está bem incômodo... Mas eu gostaria que ela não acordasse. A Moira precisa descansar
- Então vamos tentar fazer a troca sem acordá-la. – sorria, demonstrando que todo o problema que haviam passado antes já não o preocupava mais.

O príncipe levantou um pouco o corpo com cuidado, ficando com o tronco ereto e permitindo que Dário puxasse delicadamente a princesa para si, segurando-a pelos ombros. Ele deitou a cabeça dela sobre seu próprio peito e neste momento Moira moveu-se como se fosse acordar, no entanto acomodou-se sobre o tórax de Dário e fechou as mãos, agarrando o tecido da camisa dele.

- Parece que ela não acordou – Max levantou-se e se espreguiçou, esticando os braços para o alto – Estou meio dolorido como se eu houvesse participado de um treinamento muito rigoroso de combate.

Dário deu uma rápida risadinha e depois fitou Alan que estava os observando.

- Vossa Alteza não está sentindo frio? A temperatura já está muito baixa. – voltou os olhos para o príncipe.
- Sim. Está frio aqui. – encolheu os ombros e atravessou os braços em frente ao corpo.
- Será que o senhor Alan não poderia fazer uma fogueira para aquecer Vossa Alteza e a princesa? – novamente o encarou.

Alan fitou-o com seu olhar ameaçador. Por vários segundos encarou-o como se estivesse olhando para um inimigo. Parecia não ter gostado do pedido de Dário, mas, mesmo assim, levantou-se e se retirou floresta adentro, sumindo rapidamente da visão do príncipe.

- Ainda estou preocupado com o senhor Siro. Ele pode estar ferido e precisando de ajuda. – o príncipe tentava ignorar o fato de Alan estar junto deles, já que havia adquirido certo receio de ter ele por perto depois do que fez.
- Não estamos em condições de procurar alguém que está tão distante de nós nesta escuridão. – Dário falava baixo para não acordar a princesa adormecida sobre seu peito.
- Mas você nos achou. Mesmo que nós tenhamos nos distanciado.  – voltou a sentar-se depois de ter feito alguns movimentos para alongar os músculos.
- Vossa Alteza estava muito mais próximo. – franziu a testa – Me perdoe por não poder resgatar vosso guarda...
- Eu... Eu entendo... – baixou a cabeça.

Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos. Dário cuidava para manter a princesa o mais confortável que conseguia, enquanto o príncipe parecia cabisbaixo e pensativo. O cavalheiro examinava o rosto da jovem adormecida. A mancha vermelha estampada em seu rosto e o corte no lábio inferior estava melhorando, mais alguns dias e desapareceria.  Moira estava com o cabelo trançado, a longa e pesada trança caia sobre seu ombro e também no colete escuro que Dário vestia em cima da camisa.

Não demorou muito mais para que Alan voltasse trazendo consigo uma grande pilha de galhos, gravetos e pedaços de troncos que havia recolhido pelas proximidades. O homem sentou-se em frente aos outros dois e soltou o amontoado de galhos. Ele juntou folhas secas espalhadas pelo chão e pegou um dos galhos de cima da pilha, esfregando sua ponta sobre a superfície de outro mais largo. Repetiu o processo por mais algumas vezes até que pareceu conseguir obter brasa. Em pouco tempo havia conseguido ascender uma fogueira, utilizando toda a madeira que havia trazido como combustível, para aquecê-los.

Maxwell havia prestado atenção em todas as etapas do processo que Alan havia usado para ascender o fogo. Olhava com grande curiosidade. Nunca havia visto alguém iniciar uma fogueira como aquela.
Vários minutos se passaram. O jovem príncipe fitava seu antigo guarda que estava do outro lado da fogueira desconfiadamente. Tentava entende-lo, mas não sabia como. Alan devolvia o olhar, apenas observando o modo receoso com o qual Maxwell lhe fitava. O jovem finalmente tomou coragem de expor sua desconfiança e começou a falar:

- Por que você atacou o Duque Dominus? – não esperava uma resposta, apenas sentia a vontade de fazer essa pergunta que já estava o perturbando há algum tempo.

O forasteiro ficou por vários minutos fitando o garoto concentradamente, até que piscou os olhos e baixou a cabeça por um instante. Quando retornou para a posição anterior indicou com o dedo o próprio rosto e, em seguida, apontou para Moira e Dário.

- O que isso quer dizer? – Maxwell havia ficado confuso, não conseguia compreender.
- Vossa Alteza. Ele provavelmente está falando sobre o rosto de sua irmã. Foi o duque que a golpeou. – Dário, que estava prestando atenção nos dois se intrometeu.
- O duque que fez isso!? – ficou espantado e agitado – Mas como...? Mas como o senhor sabe disso? E como Alan também sabe?
- Para mim foi apenas uma dedução que acabou se tornando real... Já o Alan... Eu não sei. Talvez tenha chegado a essa conclusão da mesma forma.
- Alan? É realmente o que você quis dizer?

O sujeito assentiu com a cabeça.

- Por que o duque faria isso? – inclinou-se para frente e apoiou os punhos fortemente cerrados sobre as pernas.
- Dominus é um homem impulsivo. – ajeitou-se cuidadosamente na posição que estava – Provavelmente se arrependeu depois de tê-lo feito. Deve ter agido em um momento de exaltação. – deixou uma expressão de preocupação se manifestar em seu rosto por alguns instantes.
- O rei vai puni-lo. – disse Maxwell visivelmente irritado.
- Mas já que estamos falando da princesa, me esqueci de perguntar antes. Você sabe o motivo de ela ter perdido os sentidos? – estava curioso.
- Moira tem pavor de se perder na floresta. – encolheu as pernas, ainda indignado com a informação que havia acabado de receber - Ela entrou em pânico. Mas – bufou – Como eu deixei a minha irmã ficar perto do duque!? Não posso permitir que ela case-se com um homem assim!  - bateu os punhos contra o chão de terra.
- Vossa Alteza não precisa se preocupar mais com isso. – sorriu gentilmente - Ela já está fora do castelo do duque e depois que falarem o que aconteceu para o rei, eu tenho certeza que Vossa Majestade irá mudar de ideia.
- Você tem razão. – suspirou, parecendo aliviado.
- É melhor Vossa Alteza descansar um pouco. Quando o sol nascer nós poderemos procurar o Senhor Siro.
- Irei tentar. – Maxwell tentou acomodar o corpo contra o tronco da árvore que não era nada confortável.

Não demorou muito para que o garoto caísse em um pesado sono. Ele realmente estava bastante cansado graças a todo o transtorno que a fuga interrompida proporcionou.

- Eles dormem tão tranquilamente mesmo em uma situação como esta. Não é incrível? – sorriu maliciosamente para Alan enquanto passava gentilmente a mão sobre a cabeça da princesa.

O sujeito lhe lançou um olhar maldoso e, em seguida, baixou a cabeça e ficou fitando o fogo de sua fogueira. A luz emanada pela chama refletia em seus olhos, emitindo um brilho quase espectral, principalmente em seu olho direito.

- Oh. Perdoe-me, mas eu não tive a chance de dizer isto antes. Estou lisonjeado de finalmente lhe conhecer pessoalmente. – passou os dedos por entre as madeixas do cabelo da princesa que estavam soltas – Até então eu só havia ouvido várias histórias sobre o senhor. Jamais imaginei que fosse tão novo. Não deve ser muito mais velho do que eu.

Alan levantou novamente a cabeça e virou-a na direção do homem que falava com ele. Rapidamente pode perceber que os olhos de Dário, que antes eram de um marrom claro, estavam vermelhos, exatamente como seu olho direito. Entretanto aquilo não o espantou. Na verdade o forasteiro já sabia o que ele era desde o primeiro instante que o viu.

- Perdoe-me por ter envolvido estes dois nisso. – continuou - Eu não imaginava que algo assim fosse acontecer. – suspirou e jogou a cabeça para trás, fechando os olhos por alguns instantes – Aliás, há algo que me intriga. Por que o senhor está os servindo? –ficou em silencio por alguns instantes e fitou o príncipe adormecido – Ambos são inteligentes, não acha? O garoto é inocente, mas também é muito novo, provavelmente vai ser tão esperto quanto esta daqui. – novamente acariciou a cabeça de Moira – A princesa é muito bela. Eu conheci a irmã mais velha deles, Miriam, a Rainha de Miraluna, e posso dizer que Moira é muito mais bela que a rainha. – cravou o olhar ardiloso sobre os olhos de Alan – Não é tentador tê-la nos braços assim?

O sujeito de cabelos louros, que fitava Dário com a mesma perversidade com que era encarado, baixou a cabeça e ficou algum tempo assim, até que, repentinamente, começou a rir.

- Oh. Eu não costumo falhar assim. – também deu uma risada – O senhor é alguém difícil de decifrar. – seus olhos voltaram à cor original e sua expressão tornou-se mais amena- Logo vai amanhecer. É melhor descansarmos pelo menos um pouco.

Após terminar sua frase, Dário apoiou a cabeça no tronco da árvore em que estava escorado e fechou os olhos, tentando descansar. Alan mais algum tempo apenas observando os três, mas também logo se deitou sobre o chão repleto de folhas secas para tentar aproveitar o pouco de noite que ainda restava.



Continua...

Natalie Bear

4 comentários:

  1. :O
    ok, isso me surpreendeu ._.
    por mais que eu desconfiasse de algo.... isso foi muito surpreendente ._.
    xeeeeenti
    .__.

    ok nao consigo ter uma reação difernte auhehuaehuaehuaehuea
    meu déeeeus dário!
    ele me lembrou o loki agora.. quando ele fica azul no filme do thor(spoiler? ) xD~

    interessante ... muito interessante..

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    1. Ooooh! Que bom XD.

      Eu fico feliz que tenha surpreendido kkkkk.

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  2. Dário mostrando seu veneno LOL.

    Muito bom, Shuu!
    Está ficando cada vez mais interessante XD.

    ^^/

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