sexta-feira, 13 de julho de 2012

Capítulo 4 - Parte 3

Capitulo 4: Os Hóspedes de Sobbar

Parte 3: Olhos Malditos


Mais um dia havia se passado. Mais um dia o Príncipe e a Princesa do reino eram hóspedes do castelo de Sobbar. A tarde estava um pouco mais quente do que as anteriores que haviam passado naquela região, no entanto ainda não era o suficiente para abandonar as roupas de tecido denso. Ambos os irmãos estavam, mais uma vez, reunidos do lado de fora da grande construção que era o castelo do duque. Além dos seus guardas, ao todo sete homens, também estavam acompanhados do filho do Marquês de Codriaz.

- Vossa Alteza está certo de que aquele homem pode lhe ensinar algo? - perguntou Siro, que além de guarda pessoal de Maxwell, também era seu tutor de combate.
- Só poderei saber depois de tentar. - explicou enquanto vestia a proteção de couro para os braços.
- Eu não gosto dessa ideia, Maxwell. Ele já desobedeceu quando mandei que não ferissem um ao outro no duelo de ontem. - suspirou, parecendo preocupada - Eu achava que ele era um subordinado que seguiria qualquer ordem que eu desse, mas começo a acreditar que... – fez uma rápida pausa e olhou na direção do objeto de sua conversa - Talvez ele só seja uma pessoa violenta. - murmurou.
- Eu acho que se ele fosse só um homem violento não teria lhe obedecido ontem, quando mandou que parassem o duelo. Você não concorda? - fitou-a consentindo com sua preocupação.
- Talvez você esteja certo. - trazia o rosto pregueado pela aflição.
- Tente abrandar sua preocupação, Moira. - envolveu sua mão na dele - Não sou mais uma criança pequena para que fique se preocupando tanto comigo.
- Pequeno você é. - deu uma risadinha maldosa - É quase mais baixo que meu ombro!
- Um dia eu vou ser mais alto que você Moira! - fez cara de birra - E nem sou mais baixo que seu ombro!
- Enquanto não for mais alto que eu, você não terá direito de reclamar da minha preocupação com você. – sorria inicentemente, esquecendo-se completamente de seus temores.
- Esta relação me comove. - intrometeu-se Dário, aproximando-se dos dois com um sorriso - Então Vossa Alteza vai mesmo tentar ser aluno do senhor Alan?
- Vou tentar. O senhor e ele parecem ser excelentes guerreiros. - sorria, fitando Dário com seus olhos brilhantes - Eu também quero ser um. Como posso ser um rei se não tiver a capacidade de liderar meu exército? - passou a mão pelos cabelos, pensativos - Terei de obrigar escritores a contarem mentiras sobre minhas glórias. - riu.
- Não iriamos querer isso, não é mesmo Vossa Alteza? - riu junto.
- O senhor às vezes é um tanto intrometido. - disse a princesa, cruzando os braços.
- E como está o rosto, Vossa Alteza? -dirigiu-se a ela gentilmente.
- Ainda está inchado... - seu humor mudou completamente - E ainda dói - tinha um olhar triste enquanto tocava delicadamente sobre a marca vermelha no rosto.
- Moira. Isso não foi feito por um móvel. Não é? - a mudança de humor de sua irmã voltou a preocupá-lo.
- Eu já disse que foi. Por que está duvidando de mim? – cruzou os braços e lançou um olhar irritado sobre Maxwell.
- Oh. Desculpe. – o príncipe baixou a cabeça e percebeu uma sombra surgindo sobre ele, então se virou para ver o que era – Va-! Alan! O senhor já está pronto para tentarmos? – sorriu.

O sujeito meneou positivamente com a cabeça.

- Se ele se ferir de alguma forma... Você já sabe o que lhe acontecerá. – Moira parecia muito aborrecida.
- Nada ruim vai acontecer. – tentou animar sua irmã.

Alan fechou os olhos e inclinou a cabeça levemente para frente, após o gesto, deu às costas para Dário e a princesa, afastando-se. Maxwell o seguiu.

 - O senhor pode me ensinar a usar aquela posição que usou ontem no duelo? – Pediu com muita animação e ansiedade.

O novo instrutor temporário do príncipe girou a cabeça para onde estavam a princesa e seu acompanhante sentados em um banco simples de madeira, observando. Ambos mantinham as mesmas expressões. Moira aborrecida e preocupada com seu irmão e Dário sorrindo, parecendo estar com uma parte da animação do jovem que esperava aprender algo. Nenhum dos dois parecia querer intervir.

Parecendo estar sem pressa, Alan puxou a adaga escondida dentro do colete de couro desgastado que vestia e demonstrou ao seu aluno como era a posição que havia usado no dia anterior.

- Ow! – Maxwell tentava copiar a posição, esforçando-se para fazer igual – Como consegue ficar tão abaixado e ser capaz de desferir um golpe alto e rápido?
- Tenho a impressão que esta é uma postura de combate vindo do oeste. – Dário intrometeu-se.
- Se ele não é do oeste como pode conhecer um estilo de combate de lá? – a afirmação do cavalheiro deixou Moira curiosa.

Em retorno à pergunta da jovem, o rapaz ao seu lado apenas sorriu parecendo não ter a resposta.

O tutor temporário continuou a demonstrar posições de combate às quais utilizava, embora não parecesse que Maxwell estivesse realmente entendendo o modo de utilizá-las para atacar. Era bem diferente das quais estava costumado a ver e das que aprendia nas aulas com Siro.

Depois de algumas tentativas de ensiná-lo, Alan guardou a adaga de volta no interior de seu colete e pegou uma réplica de madeira de uma espada, que estava no chão, não muito longe deles. Girou a arma falsa na mão e a apontou para o príncipe, estabelecendo-se em uma posição de combate mais simples e que exigia que seu corpo ficasse ereto.

- Esta postura eu conheço. - disse Max sem entender o que seu guarda estava fazendo.

Sem dar tempo para o garoto entender, o guerreiro adiantou-se até ele e o atacou com a arma de madeira, o jovem defendeu-se, com sua própria espada de treino, em um movimento de reflexo e foi jogado para trás pela força com que foi atingido.

- O que você está fazendo agora? - a princesa levantou-se revoltada com o acontecido.
- Não. Não foi nada. - Maxwell colocou-se de pé e passou as mãos pela roupa - Eu deveria estar mais concentrado no treino. Se eu estivesse acho que não teria caído. – voltou à posição em que estava antes de ser derrubado – Por favor, continue senhor Alan.

O misterioso guerreiro lançou mais um ataque contra o garoto, que segurou com sua arma de madeira, mas o impacto o fez dar vários passos para trás, além de ter quase perdido o equilíbrio.

- Chega disso! - Moira tentou correr até os dois, entretanto Dário segurou-a pelo pulso, impedindo - Não me toque! - gritou e puxou o braço com força, soltando-se.

O rapaz que tentou a segurar olhava para ela de uma forma diferente, a expressão em seu rosto parecia de surpresa, de inconformidade. A princesa acabou sentindo remorso por ter gritado com ele daquela forma.

- Eu... Eu não queria gritar com você. Eu... - sua explicação foi interrompida por uma voz masculina que quase a fez estremecer.
- O que é isto que está acontecendo aqui?
- Vossa graça. - Dário virou-se com um sorriso para o duque que havia acabado de chegar ao local.

Moira apenas suspirou e baixou a cabeça, enquanto seu irmão se aproximava dos três.

- Ninguém vai me responder a razão de estarem reunidos aqui? - perguntou impaciente.
- Oh. Estamos tentando descobrir se Alan pode me ensinar algumas técnicas de combate. - respondeu o príncipe levemente perturbado com o mau-humor que o duque parecia trazer.
- De novo esse sujeito? - olhou na direção de Alan, que o encarava de maneira ameaçadora, como no dia em que chegaram.
- Vossa graça, por que tanta aversão a este homem? - perguntou o jovem de longos cabelos castanhos enquanto prestava atenção em Moira, logo atrás dele, se portando de forma estranha.
- É o contrário. - explicou, virando-se de costas para Alan - Ele quem tem aversão a mim, olhe o modo como me afronta.
- Não está lhe afrontando. - disse Maxwell - Alan tem esse olhar mesmo. - deu um sorriso amarelo.
- Entendo Vossa Alteza. - tinha uma expressão de desinteresse - Mas prefiro me manter longe do sujeito. - deu uns passos a frente, chegando até Moira, que estava ao lado de Dário - Gostaria que me acompanhasse para uma caminhada. - estendeu a mão para a jovem.

A princesa ergueu a cabeça e fitou o duque parecendo abatida e logo virou o rosto em direção a Dário apenas visualizando-o por um instante e retornando a cabeça rumo ao seu noivo. Após perceber que não tinha escapatória e de dar um suspiro disfarçado, Moira pousou sua mão sobre a dele e o acompanhou, deixando os demais para trás.

Após alguns minutos o jovem príncipe dirigiu a palavra a Dário:

- Perdoe a atitude de minha irmã. Ela não reage muito bem quando alguém a toca repentinamente. - seu olhar deixava clara sua preocupação com a irmã.
- Vossa Alteza não precisa se desculpar comigo. - sorriu - Mas, se me permite a pergunta, por que um toque causa tal reação à princesa? - não disfarçava a curiosidade.
- Meu pai me contou que ela é assim desde que nossa mãe morreu. - baixou a cabeça - Desde que a encontraram...
- A encontraram? - parecia que a preocupação de Max contaminara Dário - Do que Vossa Alteza está falando? - O cavalheiro não demorou a perceber que o príncipe estava muito incomodando com a pergunta - Não quis ser intrometido, perdoe minha audácia. - ajoelhou-se diante do jovem.
- Não há necessidade de se desculpar. - sorriu, disfarçando a apreensão – Não há necessidade de se ajoelhar.

Ao olhar para a esquerda Maxwell percebeu que Alan estava quase ao seu lado, parado, apenas observando os dois.

- Senhor Alan - Dário levantou-se - Me parece que o senhor não é um bom professor afinal. - sorriu 
ardilosamente.

O guerreiro concordou com a cabeça e descartou a réplica da arma, deixando-a cair sobre a grama.

- Eu acho que acabou não dando muito certo. Sem explicações fica um pouco complicado de entender o que quer que eu faça. Desculpe-me pela ideia tola. - o príncipe coçava a cabeça, envergonhado.

Alan tocou rapidamente o topo da cabeça do garoto com a mão que vestia a manopla com garras de metal, então se virou de costas para os dois e se afastou indo embora.

- Ele não era vosso guarda? - perguntou Dário com uma expressão pensativa.
- Sim. - ficou curioso com a pergunta.
- Por que ele está lhe deixando para trás? Ele não deveria ficar aqui para lhe proteger?
- Normalmente Alan prefere fazer seu trabalho de uma posição bem mais distante que os demais guardas. Não sei por que. Bem... - esboçou um sorriso - Ainda tenho Siro, Jonas e Elísio para fazerem minha guarda. - apontou com a cabeça para os três homens que os observavam a uns cinco metros de distancia, parados ali como se fossem estátuas decorando o jardim do duque.

- - -

Moira e o duque caminhavam lado a lado pela região oeste externa do castelo, próximos as arvores de pinos que circundavam boa parte da região e não permitiam que muitos outros tipos de plantas se desenvolvessem.

- Dispense seus guardas. – ordenou o duque, meneando a cabeça para os dois homens de armadura que os seguiam.

A jovem princesa, mesmo contra sua vontade, fez um gesto delicado com a mão, liberando seus guardas do trabalho.

- Pronto. Vossa Graça. – usou um tom irônico.
- Excelente. – deu um sorriso – Agora... – ofereceu o braço à Moira.
- Para que tudo isso? – fitou-o em revolta.
- Apenas aceite.

A princesa acomodou sua delicada mão sobre o braço de Dominus, sentindo-se mal por estar agindo como se houvesse sido domesticada por um dono maquiavélico.

- Quero lhe mostrar que vai gostar de morar por aqui. – explicava o duque enquanto conduzia sua noiva para o lado norte de suas terras.
- Não vou morar aqui. – toda vez que olhava para seu noivo, seus olhos se enxiam de desprezo.
- Claro que vai. Você vai se casar comigo logo e morará conosco. – tentava ser gentil para conseguir que sua noiva o aceitasse.
- Jamais me casarei com alguém como você. – tinha a voz apagada.
- Não fui eu quem fez o acordo com seu pai para este casamento. –soltou sua mão e posicionou-se em sua frente - Eu também não escolhi isso. – fixou os olhos nos dela. – Eu não queria ter danificado sua bela face. – ergueu o braço e tocou o rosto oval de Moira.
- Não toque! – gritou, empurrando o braço do duque para longe, transtornada com a ação dele – Quando meu pai retornar você será condenado pelo que fez!
- Você é arredia demais para uma princesa! – segurou-a com força pelos ombros.
- T-tire as mãos de mim... – Moira abaixou a cabeça e Dominus pôde sentir o corpo dela tremendo.
- O que você tem? – estava intrigado com a reação da jovem.
- Saia! – gritou outra vez, empurrando-o para trás e conseguindo se livrar de suas mãos.
- Quando você for minha esposa vou lhe ensinar a ter mais educação.  – ajeitou o longo casaco azul-escuro.
- Vou para o quarto... – murmurou cabisbaixa, mas quando ia girar o corpo para ir embora seu noivo a segurou pelo antebraço e puxou-a para si.
- Estou cansado de lhe deixar fugir! – alterou sua voz, estava irritado.
- P-por favor!!! – tentou desvencilhar-se dos braços de Dominus, mas era mais fraca que ele.
- Meu pai não deveria ter feito esse maldito acordo! Quem seria capaz de aguentar uma mulher como você? – prendia a princesa envolta por seus braços, já havia perdido a paciência que tentou manter em vão.

De repente a jovem parou de se mover e o duque pôde perceber que soluçava. Ela estava chorando com o rosto apoiado sobre o ombro dele enquanto suas mãos agarravam com toda a força o tecido do casaco.

- Não é tão forte afinal. - murmurou com um sorriso triunfante.

Quase que no mesmo instante que o duque fez seu comentário, também ouviu um tilintar metálico parecendo vir de não muito longe dali. Levantou a cabeça e moveu-a na posição da qual achou que o som vinha.

Há mais ou menos dez metros deles havia a carcaça do que parecia ser uma antiga carroça de cabeça para baixo e quebrada no meio. Mas o que deixou Dominus alarmado era quem estava sentado sobre os escombros, os observando compenetrado a cada movimento.

Alan estava sentado sobre a parte mais elevada da carroça antiga, o corpo curvado para frente, com a cabeça sobre uma das mãos, enquanto a outra, que vestia as garras de metal, se estendia para baixo, com as pontas metálicas batendo sobre a madeira do acento improvisado lentamente, produzindo um som fraco e oco.

- O que você está fazendo ai? - perguntou o duque, irritado.

Moira, ao ouvir a pergunta do noivo, ergueu a cabeça e olhou na mesma direção, encontrando o homem de olhos de cores diferentes os observando, porém estava atordoada e assustada demais para dizer algo, nem mesmo pensava direito.

- Vai ficar aí apenas assistindo como se fosse um espetáculo? - soltou a princesa e virou-se para o sujeito, o afrontando.

O forasteiro tirou os olhos do duque e fitou a jovem, que estava com uma expressão muito assustada, parecia em choque, como se algo terrível houvesse acabado de acontecer diante dela. Aquela visão, seu rosto molhado pelas lágrimas que escorriam dos olhos, o medo neles pareceu o incomodar. Alan sentou-se de maneira ereta e abaixou a cabeça, apontando para longe. Moira deu alguns passos para trás e então se virou correndo de volta pelo caminho de onde veio sem olhar para trás. Pareceu que ele esperou até que ela estivesse bem longe para voltar a erguer a cabeça.

- O que foi isso que acabou de acontecer? - Dominus agora também estava confuso, além de irritado.

Fixou novamente seus olhos peculiares sobre o duque, mas desta vez havia um sorriso sinistro em seus lábios. Para Dominus, era como se Alan estivesse o ameaçando, o desafiando de alguma forma, e essa era uma sensação que o incomodava demais.

- Desapareça da minha frente, criatura infeliz! - ordenou, ficando cada vez mais nervoso com a presença daquele homem.

Mais um som distinto e atordoante pôde ser ouvido. Alan estava arranhando a madeira da carroça com suas garras, destruindo-a, fazendo com que lascas se desprendessem e caíssem no gramado mais alto daquela área.

- Você é um homem louco e perigoso. O príncipe deveria se livrar de você. - após terminar seu comentário final, respirou fundo, encarou o sujeito com ira e foi embora pelo mesmo caminho que a princesa havia ido.

Quando Dominus se retirou, Alan parou de arranhar a madeira e envolveu aquele segmento com a mão, apertando e quebrando-a em pedacinhos. No próximo movimento ele golpeou com a luva sobre o que havia sobrando, fazendo com que o a carroça ficasse com a aparência de um amontoado de madeira sem forma. O guerreiro estava ofegante e nervoso. O braço com a manopla estava apresentando leves tremidas.

Algo estava errado.


Capítulo 4: Fim

Natalie Bear

4 comentários:

  1. eita
    ~something is wrong~ .O.

    interessante, um belo cap :)
    nao intendi direito o que pose que ele fez quando a princesa foi embora o.o masok
    interessante .o.

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  2. :O Belo cap? Wow!
    Ele apontou pra uma direção qualquer XD.

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  3. Oh! Finalmente ele resolveu fazer algo XD!

    Muito bom ^^/

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