Parte 2: Noite Adentro
Já era madrugada, o frio da noite era capaz de
atingir até mesmo os ossos da princesa. Naquele instante ela estava se
arrependendo de não ter pegado uma capa mais quente para escapulir-se pela
noite. Moira tinha tomado uma decisão, já que não poderia matar seu noivo iria
fugir. Uma decisão absolutamente tola, já que não havia trazido nada consigo,
apenas se esgueirou pelos corredores do castelo até finalmente encontrar um
lugar por onde pudesse escapar.
Mas para onde iria? Certamente não seria para um
dos casebres dos serviçais.
Moira decidiu que pegaria a estrada e tentaria
encontrar o caminho para a cidade, de lá poderia arranjar um jeito de voltar
para Sempterot, para sua casa. Entretanto a possibilidade de se perder
deixava-a nervosa. Quase a fazia desistir, dar meia volta e retornar ao quarto.
Após alguns minutos de caminhada chegou até o
inicio da estrada. Estava tremendo de frio, não conseguia nem sentir os dedos
das mãos direito, mas ela era orgulhosa demais para aceitar sua derrota e
voltar.
Quando estava dando seus primeiros passos pela
estrada, sentiu algo a segurar pelo braço.
Deu um pulo e se desesperou. Desta vez seu corpo não estremeceu só de
frio, mas também de medo. Havia levado um susto tão grande que seu coração
disparou de uma maneira que parecia querer atravessar a garganta e fugir pela
boca. Uma sensação horrível percorreu por sua espinha e seu corpo se recusou a
se mover.
Apenas depois de vários segundos sem que mais
nada acontecesse, além da pressão de uma mão segurando seu braço, Moira
finalmente conseguiu recobrar os movimentos de seu corpo e, lentamente,
virou-se para trás.
- O... O que... – virou-se o suficiente para
perceber imediatamente quem era – Eu não gosto que me toquem! Quem lhe deu a
permissão para tal? – Puxou o braço direito de volta, soltando-se.
Quando a princesa voltou-se para ele, Alan baixou
a cabeça e deixou o braço dela escapar por sua mão.
Moira suspirou, fazendo uma bruma branca sair de
sua boca. Tentou recuperar-se do susto, cruzou os braços sobre o corpo, para
tentar manter-se um pouco mais aquecida e voltou a seguir a estrada.
Não precisou de muitos passos em frente para
perceber que estava sendo seguida. Parou subitamente e virou-se novamente para
trás, fazendo com que Alan também parasse há um pouco mais de um metro dela.
- O que você acha que está fazendo? Ninguém
mandou você me seguir. Volte de onde veio! Ande...! – tentou gritar, mas sua
garganta estava começando a doer – Ugh! Eu achei que aqui estaria menos frio...
– coloca uma das mãos sobre o pescoço.
A jovem princesa esperou por alguns minutos que
sua ordem fosse acatada, entretanto o homem mantinha-se na mesma posição, como
se nem houvesse ouvido o que ela dissera. Ele realmente sabia como se parecer
como uma estátua.
- Porque não está obedecendo agora? – mesmo
irritada, tentava manter a capa completamente fechada, para que o vento não
passasse.
Que resposta ela esperava receber? O mesmo silencio de antes se manteve.
- Pois bem, então fique aí. Plantado no chão como
uma árvore. – Voltou-se a estrava e andou por mais alguns metros, sentindo seu
corpo congelando com o vento que parecia piorar.
E novamente Alan a segurou, mas desta vez havia
sido o ombro esquerdo. Moira olhou rapidamente para o ombro e percebeu que ele
estava vestindo a luva com as garras de metais e que elas estavam próximas de
atravessar o tecido da capa. No instante, seguinte, antes que pudesse reclamar,
sentiu um puxão para trás forte o suficiente para lhe fazer perder o equilíbrio
e cair para trás.
Moira gritou, mas quando se deu conta não havia
caído no chão. Sequer caiu. Havia batido as costas contra algo quente e
definitivamente tenro. Quando levantou um pouco os olhos, praticamente em um
movimento extintivo, pôde enxergar algumas das mechas douradas do cabelo do
forasteiro.
Tentou desencostar-se dele rapidamente e se por
de pé, mas percebeu que seus pés estavam começando a escorregar para frente e
começou a se sentir angustiada.
- Você vai perder a ca--!!!!! – antes que pudesse
terminar a frase, Alan puxou-a para cima pela cintura e a ergueu quase jogando
para o ar, em seguida apoiou seu ventre contra o ombro e ali a manteve
equilibrada, como um saco de batatas.
- Seu maníaco!! – bradou irritada, batendo suas
delicadas mãos contra as costas dele - Você vai para a masmorra, vai ser
torturado e depois decapitado no meio da praça!!!!
A jovem e agora muito irritada princesa pôde
perceber quando Alan começou a se locomover, porém não conseguia ver nada, todo
seu cabelo e o capuz da capa haviam coberto sua visão e ela não conseguia os
tirar do rosto. Na verdade tinha medo de soltar as mãos da capa dele,
escorregar e cair.
- Vou fazer você se arrepender do que fez!! –
continuou o discurso berrado, agitando o corpo o máximo que conseguia, tentando
se livrar do braço do forasteiro que a mantinha firme sobre seu ombro, e
obviamente não tendo sucesso.
Nem mesmo bater seus joelhos contra o abdômen
dele surtia efeito, era como uma pedra que podia andar.
Alguns minutos de gritaria, ameaças e caminhada
se passaram até que Moira percebeu que finalmente haviam parado, o que a deixou
momentaneamente em silencio, esperando pelo que viria a seguir.
O misterioso homem de olhos de cores diferentes
ajoelhou-se e puxou a princesa de cima de seu ombro, soltando-a em um tronco
caído sobre a grama do local em que estava acampado, bem em frente a fogueira. No momento em que ele a libertou e se afastou um pouco, Moira aproveitou para
lhe bater, com as costas da mão, em seu rosto.
- Pode se preparar! Quando voltarmos para
Sempterot você será um homem morto!!! – mais uma vez gritou, embora sua
garganta já estivesse doendo há algum tempo.
Ajoelhado a sua frente, Alan curvou o corpo, como
se estivesse reverenciando sua alteza, ou jurando-lhe lealdade, ou talvez
apenas aceitando a sentença que ela havia lhe dado.
Moira queria se levantar dali, mas percebeu que
próximo da fogueira estava muito agradável, seu corpo estava começando a ser
invadido novamente pela sensação amena do calor. Resolveu que iria ficar
sentada por mais alguns minutos, o que não diminuía nem um pouco da sua
irritação com o forasteiro atrevido.
- Você pensa que tem o direito de me impedir se
fugir se eu quiser??? – continuou a discutir, mesmo que na verdade fosse apenas
um monólogo – Você teve a sorte de ter sido acolhido pelo rei, mas agora jogou
sua oportunidade para o vento. Perdeu a sua chance! E eu não vou ficar aqui,
não vou pertencer àquele homem! EU...! – respirou fundo, já quase sem ar de
tanto falar sem intervalo entre as frases.
Enquanto a garota respirava, Alan levantou-se do
chão e foi sentar na outra ponta do tronco. Em uma de suas mãos havia uma
espécie de caneca que parecia ser feita de metal. Ele a segurava com a mão sem
as garras metálicas.
- Você provavelmente não teria me obedecido se eu
tivesse pedido para matar o duque... – deixou seus pensamentos escaparem em um
suspiro – Por que eu?? – cerrou as mãos e as bateu contra os joelhos, tentando
descontar sua decepção em forma de agressividade.
O forasteiro baixou o copo e olhou na direção da
princesa, como se estivesse interessado no que ela tinha a dizer, mesmo que sua
expressão não houvesse mudado em nada.
- Por que... – o tom de voz havia ficado tão
baixo que era quase como o sussurro do vento da noite – Por que a Miriam
casou-se com rei de Miraluna e meu irmão, quando casar-se, sua mulher será a
futura rainha de Colinas de Cristal?... Por que preciso me casar com um duque?
É culpa dele o que aconteceu... – colocou as mãos sobre o rosto, esfregando-as
com toda sua delicadeza – Não sei por que estou falando sobre isso com
alguém... Com um serviçal. – deu mais um suspiro e inclinou o corpo para
frente, apoiando os cotovelos sobre as coxas das pernas – Deve ser
provavelmente porque vou mandar lhe executarem quando chegarmos ao castelo... E
também porque você não tem como dizer isso para mais ninguém...
- Não tenho?
De repente o frio novamente tomou conta do corpo
da princesa, o arrepio que percorrera sua espinha antes também havia voltado.
Mais um grande susto em tão pouco tempo. O coração tocava como o rufar de
tambores de um choro de guerra. Em segundos o susto transformou-se em raiva.
Moira levantou-se tão rapidamente do tronco que quase ficou tonta.
- Eu sabia que você estava nos enganando sobre
não poder falar!!! – apontou para Alan, com o rosto contorcido pela raiva.
O homem bebeu tranquilamente do conteúdo de seu
copo e respondeu:
- Mas a pouco pensou o contrário... – olhava em
direção ao copo.
- Você sabe o tamanho do crime que cometeu ao
fazer o rei e sua família de bobos da corte!?? – não conseguia contar todo o
ódio que estava sentindo.
- Vossa alteza acabou de me condenar à morte já.
- Maldito seja!! Eu mesma irei lhe matar agora!!
– pegou um galho que estava no chão, não muito distante deles e agitou-o no ar
na direção do forasteiro, que prontamente segurou suas mãos, antes que a “arma”
o atingisse – Ordeno que solte minhas mãos!! – sentia o frio do metal daquelas
garras em torno de sua mão.
Alan levantou o rosto e fitou os olhos da jovem,
com um sorriso malicioso esboçado nos lábios. Era a primeira vez, naquela
noite, que Moira via seus olhos sinistros, mas estavam diferentes. Ela logo
percebeu que seu olhar era diferente. Não estava vazio, mas sim repleto de maldade
e volúpia.
- Vossa Alteza... – aproximou-se e sussurrou em
seu ouvido - Não tem porque ter medo de mim.
A princesa levantou-se em desespero, deixando um
grito escapar pela garganta. Sua respiração estava ofegante e suas mãos tremiam.
- Vossa Alteza, o que aconteceu? – um dos homens
responsáveis pela sua guarda entrou no quarto, alarmado com o grito que acabara
de ouvir.
- Ah? – Moira olhou para seu guarda, confusa e
demorou a perceber que tudo aquilo não havia passado de um sonho – Eu estava...
– olhou para o guarda – Está tudo bem, foi só um sonho... -a angústia estava estampada em seu rosto –
P-pode sair.
- Perdão, Vossa Alteza. – retirou-se do quarto.
- Maldito sonho! – esfregou as mãos sobre os
olhos e percebeu que a luz do dia estava entrando pela janela – Por que eu
perdi a noite toda com um sonho desses?? – parou um pouco para pensar – Acho
que dormi pensando sobre dar a ordem de matar o duque...
Moira não sabia por qual motivo teria sonhado
algo assim, embora sempre desconfiasse do forasteiro. Mas de uma coisa ela
tinha certeza: O sonho a havia deixado muito irritada!
Continua...
Natalie Bear
Natalie Bear
primeiro, eu fiquei ":O ela saiu do castelo! Burra!Burra!Burra!"
ResponderExcluire então "há, sabia que nao ia ir longe"
e depois " WOW ELE FALA DAFUQ! "
e ai eu "fiquei ah, era um sonho :<"
.... será? :) eu aposto que era bem de verdade!
Quantas reações em tão pouco texto!!! kkkkkk
ExcluirA revelação que é um sonho surpreende todo mundo xD!
ResponderExcluirGostei bastante desse capítulo também xD!
^^/
:D Bom saber kkk.
ExcluirEu também gostei! =]
ResponderExcluirSe fosse mesmo verdade, as roupas dela teriam algum sinal, sujeira, molhado, amassado, alguma coisa. Ele poderia te-la colocado na cama sem ninguém ver. Agora ela volta a ficar na dúvida se ele fala ou não! haihaihaiuiahiha... muito bom!
Ela estava vestindo uma capa pra frio. Certamente não estava usando uma na cama XD, senão seria óbvio para ela que tinha sido verdade.
ExcluirMas pode ter sido só um sonho também, já que ela desconfia do forasteiro tanto, não seria tao impossível ter um sonho desses, que alimentasse suas desconfianças.